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quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

Os 43 de Raúl Isidro Burgos




Contra o narcoprefeito foram protestar
José Luis Abarca, a besta de Iguala
Que em março mandou assassinar
Camponeses que queriam o solo adubar
E que com suas mortes fertilizaram
Os jovens de Ayotzinapa


Armados de indignação os 43 normalistas
Foram seu canto entoar
Mas a imperatriz de Beltrán Leyva
María de los Ángeles Pineda Villa
Estava a discursar


Para não ser interrompida
Acionaram a polícia
Que sequestrou os normalistas
E os entregou aos chacais


Amontoados como animais
15 morreram asfixiados
Os demais foram alvejados
E todos incinerados
No lixão de Cocula
Queimados em alta temperatura
Por 14 horas ininterruptas


Os 43 estudantes da Escola Normal Rural
Raúl Isidro Burgos
Localizada a 125 km de Iguala,
Na cidade de Ayotzinapa
Queriam ser professores


Não puderam se formar
Mas a lição que deixaram
Essa ninguém poderá apagar


Daniel Oliveira
Brasil – América Latina
Primavera de 2014

segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

Nova literatura afro-brasileira reconta parte da História e tem Rio como reduto

Escritor Manto Costa reune em ‘Circo de Pulgas’ contos que se passam em lugares como Sambódromo, Lapa e Pedra do Sal

Maria Luisa Barros
Rio - Pelas mãos de escritores negros, personagens anônimos da cidade, que vivem à margem dos cartões-postais, se tornam os protagonistas de histórias de dores e amores colhidas nas ruas, bares e becos do Rio de Janeiro. Representante do novo movimento literário afro-brasileiro, o jornalista e escritor Manto Costa reuniu no livro ‘Circo de Pulgas’ 12 contos que se passam em cenários emblemáticos como o Sambódromo, a Lapa, a Pedra do Sal, no Morro da Conceição, e a Praça 11, berço do samba carioca.
Considerado um dos bons ficcionistas brasileiros da atualidade, Manto passeia por lugares com forte presença negra e importantes na história da escravidão no Brasil para brindar o leitor com narrativas tocantes sobre figuras como: Velho Aruanda, Zé Ruela, Pente Fino, Zé Menino, Dona Menininha e Perninha, entre tantos outros. Em meio a batucadas, botecos e terreiros, a sensação é de já ter esbarrado com esses personagens por aí, sem, no entanto, se ater às suas vivências. O que Manto faz com maestria.
Manto Costa reúne no livro ‘Circo de Pulgas’ 12 contos que se passam em cenários como o Sambódromo, a Lapa e a Pedra do Sal
Foto:  Maíra Coelho / Agência O Dia
Não à toa, a obra, cujo lançamento será na próxima quinta-feira na Livraria Folha Seca, foi a primeira de um pacote de cinco autores negros, todos com larga bagagem, como Joel Rufino, Conceição Evaristo, Carlos Nobre, Nei Lopes e Cuti, a receber recursos federais para chegar aos leitores.
Na literatura criada por eles, a trajetória da negritude é contada pelos próprios negros. “É o resgate da história brasileira contada pela elite branca. O próprio Zumbi, durante muitos anos era retratado nos livros escolares como um negro fujão. Hoje sabe-se que o Quilombo de Palmares foi a primeiro movimento de independência do Brasil”, diz Manto.