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segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Greve da educação 2011

Os professores em Minas
Estão em greve
 
Eles tem o pior piso
Entre todos os Estados
Do Brasil
 
Como se não bastace
Tiveram (os grevistas)
Seus salários cortados
 
E seus cargos ocupados
Por oportunistas contratados
Em flagrante desrespeito
 
Eles lutam para que o governo
Pague o piso salarial nacional
Determinado por lei federal
 
Os professores querem
Que cumpra-se a lei
Dever de qualquer governo
De um estado democrático
 
O Governo neoliberal Anastasia
É fora da lei!
E ainda assim
Diz ser defensor
Da educação
 
Pensem nisso
Senhores pais
Pensem nisso
Senhoras mães
Educação não é mercadoria! 
 
HALLISSON NUNES GOMES

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Heroísmo

Nossos heróis não têm punhos de ferro nem peito de aço
Não lançam fogo pelas mãos nem raios pelos olhos
Não flutuam, não voam, não escalam edifícios!
Nossos heróis não ficam invisíveis nem são eternos
Não são metálicos, fluidos ou atômicos!
Não atravessam paredes nem adivinham o futuro
Não viajam no tempo nem são invencíveis!
Não tem a força de um tanque nem o poder de um foguete
Nem podem destruir cem inimigos com um único golpe!
Não... Não temos heróis assim!

Nossos heróis precisam comer, beber, respirar e dormir.
Nossos heróis estão nas fábricas torneando peças
Montando carros, computadores, sofás e geladeiras!
Estão no volante de um trator, num balcão, nas oficinas e
armazéns!
São lavradores, enfermeiros, coveiros, professores e estudantes!
Nossos heróis cortam cana, recolhem lixo, assentam tijolos, lavam roupas!
Vendem alface, fazem pão, riem, choram, votam e são assaltados.
Nossos heróis pagam impostos, ficam doentes e perdem o emprego!
Mas continuam de maneira visceral a criar, com seu
heroísmo, para este país,
Nossos futuros heróis!

Emerson Mário Destefani


poema em embalagens de PÃO E POESIA ...
http://paopoesia.blogspot.com

http://arvoredospoemas.blogspot.com

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Cultura y Revolución


Los contrarrevolucionarios cubanos hacen referencia a que  la Revolución Cubana trajo consigo un freno al desarrollo intelectual, etc. En el año 59 en que triunfa la Revolución Cubana, la instrucción publica, y la cultura eran patrimonio de las élites burguesas, en una población de 6 millones de habitantes con más de un millón de iletrados. Fue la Revolución la que cumplió la promesa de Fidel en la Historia me Absolverá, de que “al pueblo no le vamos a decir cree, sino lee”.
Ahora mismo hay Sedes Universitarias en todos los Municipios del país. El nivel de escolarización de Cuba es muy superior al resto de América Latina, y algunos países desarrollados. Cuba a pesar del bloqueo, produce más músicos, pintores, escultores, y artistas que casi todos los países de América. Algo como el Ballet Nacional de Cuba que exporta bailarines como Carlos Junior Acosta, primera figura del Royal Ballet de Londres, es algo que desmiente una involución cultural.
A veces me sorprende que a pesar de que la comunidad Cubano Americana dice ser un paradigma cultural, ya no puede mantener su programación sin contratar a los que se fueron de Cuba. Es decir que nuestras escuelas de arte está formando artistas para Cuba, y hasta para regalárselos a Miami. Vi una película producida y filmada en Miami, y el elenco completo está compuesto por artistas del Cine y  la Televisión Cubana.Ninguno se graduó en Juilliard. Se graduaron en la ENA, en el ISA, enla ENIA, y en otras escuelas de arte nuestras. Hasta le tenemos que prestar a los Van Van para que gocen a lo cubano. Gloria Estefan, y Willie Chirino, son una champolita de salsero puertorriqueño con bastante virulilla tecnotrónica, nada que tenga que ver con auténtica timba cubana.
Cuando algunos timberos famosos de la isla llegan allá los transforman en algo insípido. Del Carlos Manuel, el del Clan, que se fue de aquí, solo queda un espejismo. Ese personaje con frac, moviéndose en el escenario, con unas bailarinas de pasillos estudiados en academias de yanquis, que no son nuestras mulatas de Jesús María y Pogolloti, da más lástima que otra cosa, aunque él asegure que está haciendo lo que le dé la gana.
Eso sin contar médicos científicos, en todas las ramas del saber.La Biotecnología cubana está al nivel del primer mundo, al punto de ser el único país de nuestro tan llevado y traído tercer mundo, que ha logrado que el Departamento del Tesoro, a pesar del bloqueo autorizara la transferencia de tecnología en el campo científico, de Cuba hacia EEUU.
A pesar de las limitaciones de impresión en este país de venden millones de libros de autores de todo el mundo, así que yo nunca he entendido del todo, eso que hablan los albarderos de la reacción. De Mario Vargas Llosa, me he leído en ediciones cubanas “La ciudad y los perros”, “La guerra en el fin del mundo” y otros libros suyos, a pesar de que hace años rompió sus antiguos lazos con nosotros. De Almodóvar se ponen todos los días sus filmes, a pesar de que a cada rato nos tira con todo.
Lo que no vamos a permitir en Cuba el PCC, y los revolucionarios cubanos es lo que pasó enla URSS, que los yanquis y sus aliados se dedicaron a destruir a tal punto la historia dela URSS, que un poco más y Hitler y los nazis perdieron la guerra por sus errores propios, ¡Ah! y gracias a los yanquis. Los 20 000 000 de muertos soviéticos no pintaban nada porque eran comunistas, y nunca hicieron nada novedoso, ni humano, ni divino. Los viajes al cosmos los lograron gracias a los gulaks, y la represión. Los soldados en la guerra no se batían palmo a palmo en defensa de su patria por amor a ella, sino por temor a los comisarios del Ejército Rojo.
Nuestro Partido es el Escudo y el Alma dela Nación Cubana.Los Partidos dela Gusanera, alias “grupúsculos”, esos que solo existen en los medios occidentales. En Cuba vamos a construir el Socialismo nuestro, el de Fidel, el del Che, el de Raúl y el de todos nosotros. Ese es monopartidista, el del Partido Comunista de Cuba, heredero del Partido Revolucionario de Martí. Aquel que los yanquis nos disolvieron cuando nos robaron la independencia.
Publicado originalmente en: http://edumatanzas.blogspot.com/

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

O pagador de promessas - Dias Gomes

                       Primeiro Ato
                   Primeiro Quadro

      Ao subir o pano, a cena está quase às escuras. Apenas um jato de luz, da direita, lança alguma claridade sobre o cenário.
Mesmo assim, após habituar a vista, o espectador identificará facilmente uma pequena praça, onde desembocam duas ruas.
Uma à direita, seguindo a linha da ribalta, outra à esquerda, ao fundo, de frente para a platéia, subindo, encadeirada e sinuosa, no perfil de velhos sobrados coloniais. Na esquina da rua da direita, vemos a fachada de uma igreja relativamente modesta, com uma escadaria de quatro ou cinco degraus. Numa das esquinas da ladeira, do lado oposto, há uma vendola, onde também se vende café, refresco, cachaça etc.; a outra esquina da ladeira é ocupada por um sobrado cuja fachada forma ligeira barriga pelo acúmulo de andares não previsto inicialmente. O calçamento da ladeira é irregular e na fachada dos sobrados vêem-se alguns azulejos estragados pelo tempo. Enfim, é uma paisagem tipicamente baiana, da Bahia velha e colonial, que ainda hoje resiste à avalancha urbanística moderna.
      Devem ser, aproximadamente, quatro e meia da manhã. Tanto a igreja como a vendola estão com suas portas cerradas. Vem de longe o som dos atabaques dum candomblé distante, no toque de Iansan. Decorrem alguns segundos até que Zé-do-Burro surja, pela rua da direita, carregando nas costas uma enorme e pesada cruz de madeira. A passos lentos, cansado, entra na praça, seguido de Rosa, sua mulher. Ele é um homem ainda moço, de 30 anos presumíveis, magro, de estatura média. Seu olhar é morto, contemplativo. Suas feições transmitem bondade, tolerância e há em seu rosto um “quê” de infantilidade. Seus gestos são lentos, preguiçosos, bem como sua maneira de falar. Tem barba de dois ou três dias e traja-se decentemente, embora sua roupa seja mal talhada e esteja amarrotada e suja de poeira. Rosa parece pouco ter de comum com ele. É uma bela mulher, embora seus traços sejam um tanto grosseiros, tal como suas maneiras. Ao contrário do marido, tem “sangue quente”. É agressiva em seu “sexy”, revelando, logo à primeira vista, uma insatisfação sexual e uma ânsia recalcada de romper com o ambiente em que se sente sufocar. Veste-se como uma provinciana que vem à cidade, mas também como uma mulher que não deseja ocultar os encantos que possui.
      Zé-do-Burro vai até o centro da praça e aí pousa a sua cruz, equilibrando-a na base e num dos braços, como um cavalete. Está exausto. Enxuga o suor da testa.

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Autor alemão narra a vida de Fidel Castro em quadrinhos

Há décadas o revolucionário cubano é um enigma tanto para seus compatriotas quanto para o resto do mundo. Depois de inúmeras tentativas literárias, é a vez de o cartunista Reinhard Kleist se ocupar desse grande mistério.

Delinear a vida do líder revolucionário cubano Fidel Castro é um desafio até para o biógrafo mais bem informado. O ícone mundial que completou 85 anos de idade no sábado passado (13/08) não é apenas uma personagem politicamente controvertida, mas também um mistério para o mundo exterior.

Assim, a recente tentativa de um cartunista alemão de contar a história de Castro em quadrinhos parece – na melhor das hipóteses – altamente ambiciosa, ou – no pior dos casos – simplesmente tola. Mas o fato é que Reinhard Kleist conseguiu compor uma biografia espantosamente vívida do assim chamado Grande Líder. Já traduzida, ela deixou o público de HQ de idioma inglês pedindo mais.
 Como aponta um dos mais importantes especialistas no gênero, Paul Gravett, Castro constitui um marco nas histórias em quadrinhos da Alemanha. Segundo ele, o HQ germânico levou tempo para amadurecer, mas "seu momento chegou" com a publicação desse livro. "Nos últimos dez anos, vimos um bom número de autores alemães marcar presença na cena internacional, e Kleist é um pioneiro dessa nova forma", analisa Gravett.

A façanha não foi fácil, admite Reinhard Kleist. "Escrever a história foi realmente uma grande tarefa. Fiquei frustrado durante semanas, pois não tinha ideia de onde começar e onde terminar." O cartunista diz estar especialmente satisfeito por ter encontrado um meio de falar sobre a Revolução Cubana. "Não acho que esse livro seja especificamente sobre Fidel Castro. Na verdade, é sobre a revolução, e a personagem forte que ele representa."

Castro ao lado de Hugo Chávez e Raul Castro, seu irmão e sucessor no comando de CubaCastro ao lado de Hugo Chávez e Raul Castro, seu irmão e sucessor no comando de Cuba

Perseguindo ideais

Kleist comenta que traçar a vida do líder deu-lhe a oportunidade de questionar seu próprio sistema de crença. Ele enfatiza que Cuba é frequentemente romantizada no pensamento político alemão, e que ele chegou ao país num estado de ingenuidade incurável.

"Um tema permeia todo o livro: como perseguir os próprios ideais. Temos duas personagens diferentes: Karl, o narrador e Fidel. Cada um segue seus ideais de forma diversa." O protagonista é um repórter jovem e idealista, que rapidamente desiste de tentar permanecer neutro. Ele foi inspirado numa entrevista com Castro realizada na vida real por um repórter do jornal The New York Times.

No livro, o veterano revolucionário também concede uma entrevista a Karl, com quem conversa o tempo inteiro, deitado em sua rede. E o jornalista não só é contagiado pela febre da revolução como se apaixona por uma jovem combatente.

Profundidade e diversão

Kleist admite que a história de amor foi relativamente fácil de narrar, comparada com as complexidades da figura de Castro. No fim, o autor acabou por não simpatizar nem um pouco com sua personagem. "Ele não é uma pessoa de que se goste. Não há como se aproximar de Fidel Castro em 300 páginas: é quase impossível identificar-se com ele", observa.

De acordo com Paul Gravett, diretor do festival de HQ de Londres Comica, a tentativa de se confrontar com uma das personagens mais polarizadoras da história não comprometeu o potencial de entretenimento do livro. "A página se desenvolve de maneira muito fluida. É incrível a capacidade de retratar Castro em todos os estágios de sua vida. Não se trata de uma história de mocinho e bandido. Ela é complexa, e Kleist sabe estabelecer as locações muito bem, você realmente sente como se estivesse dentro da revolução."

O livro é cheio de ironia e humor. O próprio autor aponta uma de suas seções favoritas, onde esboça centenas de complôs reais contra a vida de Castro, incluindo o plano de instalar uma bomba submarina enquanto o líder cubano sai para mergulhar.

Questão de equilíbrio

Mas será que o esforço de ser engraçado numa história em quadrinhos não banaliza, de certa forma, a Revolução Cubana e todas as vidas humanas que ela custou?

Na opinião de Gravett, este não é o caso. Para o especialista em HQ, Kleist captura a motivação psicológica de Castro, sem tentar estabelecer a biografia definitiva. "Ele não procura traçar uma grande pincelada histórica, mas sim penetrar no pensamento e na personalidade de um líder extremamente fascinante."

Para Kleist, ocupar-se de Fidel Castro representou uma dura viagem emocional. Indagado se enviaria uma cópia ao revolucionário, o autor diz ter ouvido que ele lê todos os livros publicado a seu respeito. Assim, o cartunista alemão espera que o Grande Líder não deixe de ler este também.

Fonte: Deutsche Welle
Autoria: Nina-Maria Potts (av)
Revisão: Carlos Albuquerque

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Homenagem a Saramago, por Mauro Iasi


Homenagem a Saramago
(ou de flores, pessoas e palavras)[1]


Mauro Luis Iasi[2]


            Joana Carda traçou uma linha no chão com sua vara de negrilho, os cães de Cerbère, que nunca ladram, ladraram ao fundo, enquanto os estorninhos passaram a seguir o pobre José Anaiço, ao mesmo tempo em que Joaquim Sassa lançava uma pedra ao mar e a terra tremia sob os pés incrédulos de Pedro Orce[3]... pronto... a Península Ibérica se soltou do continente europeu e navegou pelo oceano tenebroso da mesma forma que muito tempo antes navegantes portugueses se lançavam com suas naus, sextantes e velas em busca de um novo mundo, ou fugindo do velho mundo que naufragava em terra firme, não se sabe; mas não adiantemos nossa história, pois nada disso seria possível se em outro momento, numa mera quinta feira como qualquer outra, pois um dia nada mais é que um dia, ainda que todos os dias, mesmo os mais corriqueiros, tenham sua história e levaria anos para contá-la, mas no mais das vezes não passam mesmo disso, um dia como outro qualquer, e neste em especial nada aconteceu. Nem terra tremeu, nem penínsulas se divorciaram de seus continentes e não fosse o fato de que cães latiram, aliás, como sempre fazem os cães que não são de Cerbère, nada de especial se veria de neste dia, nesta casa, nesta gente humilde que tem casa, mas não tem terra e ainda assim lavra e planta e colhe naquilo que não tem para produzir aquilo que não terá; nesta casa sem terra, neste dia 16 de novembro de 1922 que calhou ser uma quinta feira, e que não se tire deste fato conclusões, pois poderia ser quarta ou sábado que da mesma maneira o rebento nascia, uma vez que não se vem ao mundo munido de calendários, mas por necessidade de sair do ventre e entrar no mundo, sem pedir licença ou saber aonde, se em Portugal ou Espanha, saberá deus onde acaba um e começa outro. Coube ao destino que fora em Portugal, mais precisamente em Azinhaga, no conselho de Colegã, na província de Ribatego, onde nada há, mas havia uma casa de camponeses que não tinham terra, mas tiveram um filho e o chamaram de José, condenando-o, sem o saber, a trabalhar como trabalhou o pai do nome e a ver obras serem paridas sem saber se foi ele mesmo que as fez. Para não esquecer de onde veio coloram em seu nome outros nomes para que entre tantos josés ele se encontrasse consigo mesmo e não se confundisse com os outros que como ele trabalhariam no que não tinham, produzindo para não ter; e foi assim que José carregou também o Souza de sua mãe e Saramago de seu pai. O Souza seguiu o destino das mulheres de Portugal, de negro e na sombra, lembradas para serem em seguida esquecidas, de forma que o rebento que entrara no mundo naquela quinta feira do mês de novembro do ano de 1922 ficaria conhecido apenas por José Saramago, hoje reconhecido como nome importante de escritor, mas que naquela quinta feira não passava de nome de trabalhadores sem terra e que na verdade dizia no nome fabricado de letras a carne da coisa que representa, não como o nome da rosa, coisa de importância outra que arrebata corações tomados por paixões avassaladoras e enfeita mesas sofisticadas de gente de nossa melhor sociedade, ou coisa ainda mais séria que Umberto Eco nos conta, mas não explica; pelo contrário aquele nome dizia respeito à coisa bem mais simples e corriqueira, nada mais que uma pequena florzinha silvestre que brota de escombros – saramago – em minúsculo mesmo, pois flor não merece distinção de gente, ainda que como gente brote em qualquer parte, até mesmo em escombros.
            No registro encontrar-se-á o dia 18, mas uma coisa é o dia em que se nasce e outra aquele em que se registra o que nasceu, ora só o que faltava é não considerar o existente por dois dias, tirar da existência dois dias por coisas burocráticas como registros de nascimento. Nasceu e por dois dias o Estado não o reconheceu, talvez por vingança depois de crescido o nascido também o Estado não reconheceu, mas isso são coisas de comunista que depois veremos como se dão. Naquele momento não era comunista nem cristão, apenas era e assim cresceu e se mudou, porque diferente de flor silvestre que sempre está onde nasce, com gente é diferente, sempre carregando suas raízes fora da terra, levantado do chão, navegam com suas coisas e filhos para cidades grandes e frias que os recebem com indiferença e asco como se o chão que assenta a cidade não fosse também o mesmo chão que abrigava os que antes não tinham terra e na cidade continuam não tendo por profissão. Mas, cidades são escombros de outra natureza feitos dos sonhos daqueles que nelas chegam e o jovem José em Lisboa também sonhava e estudou no Liceu e no Técnico sem, contudo, poder continuar os estudos, pela maldição do nome se colocou a trabalhar desde cedo, aos 12 anos, como serralheiro, depois mecânico, desenhador e funcionário público de vários afazeres na saúde e previdência social e tanto trabalhou que não seguiu estudando como queria. Não podendo desposar os livros em seu templo universitário, os visitava como amante furtivo na Biblioteca Municipal no Palácio Galveias, na freguesia de Nossa Senhora de Fátima bem de frente à Praça de Touros do Campo Pequeno, que fora no século XVII casa de campo, quando ali ainda era campo, da família do ilustre e nobre senhor Marques de Távora que não receberia em sua casa coisa tão pequena como saramago, gente ou flor, mas que em 1759 perdeu a casa por conta de um processo movido pelo Estado envolvendo escândalo de grande monta ligado à tentativa de assassinato de D. José I, o que mostra que nem todo José carrega a maldição do trabalho ocupando-se de coisa mais nobre que é governar reinos, sem contar o próprio José que depois de se tornar santo não mais se ocupou da marcenaria por uma espécie de nepotismo celestial; mas o fato é que Dom Francisco de Távora perdeu sua bela casa que de mão em mão passou até que 1928 por ação da Câmara Municipal de Lisboa foi transformada em biblioteca, que diferente de palácios nobres aceita a qualquer um, seja saído ou não de escombros silvestres. Foi ali que o jovem José navegou novamente para longe só que desta vez sem sair do lugar, nas asas de páginas amareladas, cheirando a ácaro e mofo, se converteu em Ícaro e voou protegendo suas frágeis asas de cera do sol inclemente da realidade no interior das paredes de tal palácio que já foi de Marqueses e agora se diz público, onde se explica abrigar um menino de pais agricultores como os pais deles, que estudou e trabalhou e agora só trabalha de onde foge para amar os livros às escondidas.
            E amou e de tanto amar também passou a amar gente que como sabemos difere de flores e da mesma forma dos livros ainda que como eles conte histórias que carregamos não em páginas, mas nos olhos e no corpo e nas palavras que dizemos como nos livros e, da mesma forma que nos livros, às vezes nos vemos melhor que em nós mesmos ou em outro qualquer tipo de espelho, às vezes vemos outras pessoas em que nos vemos e, por um momento, já não sabemos onde acaba ela, onde começa a gente e, em fim, nos apaixonamos. E foi assim com José que encontrou Ilda Reis e com ela se casou no ano que então corria e que era o de 1944. Logo depois a terra tremeria e a culpa não foi ainda de Joana Carda e sua vara, mas de um pintor e seu tambor que varreria o mundo com suas hordas e que, ao contrário de nosso personagem, não amava os livros, mas os queimava. No entanto, mesmo em tempos de barbárie nos quais a humanidade mesma quase vira escombros, nascem flores, ainda mais aquelas que por vocação e nome nascem em escombros, e foi assim que no mesmo ano duas flores nasceram e nenhuma delas era flor: uma na forma de gente, também pequena flor silvestre brotando em ruínas, que recebeu o nome de Violante, sua filha; e outra, um pouco flor, um pouco filha, na forma de livro que batizou (porque livros também têm nomes) como o nome de A viúva (1947). Nomes são coisas interessantes, uns ficam com a gente a vida toda, mas por vezes colam em nós nomes que não são nossos e ficam sendo mais nossos nomes que os nomes que nos deram, como aconteceu com Lênin que era Vladimir, e foi isso que se deu com o primeiro livro de nosso escritor que nasceu com o nome de A viúva, mas o editor achou que assim não venderia e o rebatizou de Terra do pecado e desta forma foi conhecido, menos pelo próprio autor que odeia o nome dado, talvez porque tenha sido a primeira vez que se reencontrou com seu destino e de sua família, aquele de produzir coisas que se vão e não mais ficam nossas.
            Talvez por isso mesmo, ou porque nasceu com nome de flor silvestre que nasce em escombros, ou por serem seus pais camponeses que não tinham terra como seus avós, ou por trazer marcado no corpo a sina daqueles que trabalham para ver seu produto fugir de suas mãos, ou porque se chamava José e tinha que trabalhar e trabalhar, ou porque se parecia a Blimunda[4] que quando não comia seu pão pela manhã podia ver dentro das pessoas, ou porque amava as palavras e os livros, e por isso as pessoas, ou porque podia construir na sua cabeça outro mundo que não este no qual flores, pessoas e livros são queimados, ou talvez por tudo isso, se tornou comunista: em 1969 entrou no Partido Comunista Português.
             Assim como ninguém nasce cristão ou comunista, um escritor não nasce quando escreve seu primeiro livro. José foi se procurando naquele mar de palavras, mas não se via bem naquilo que escrevia. Seu segundo livro foi rejeitado pelas editoras, chamava-se Clarabóia e permaneceu inédito para sempre; só voltaria a publicar dezenove anos depois, mas agora bravo com a prosa resolveu se procurar na poesia e os chamou de Os poemas possíveis (1966). É mais fácil da gente se ver na poesia, ainda que seja mais difícil fazê-la, porque ela se mostra assim inacabada de maneira que uma pessoa olha o que é mostrado e se encontra naquilo que não é revelado, então, ela inventa o resto imaginando que o poeta escreveu para ela. Outros dois livros de poemas viriam, Provavelmente alegria (1970) e O ano de 1993 (escrito em 1975, porque os poemas também não nascem com calendários e às vezes se confundem); tímidos como seu pai/flor silvestre, não se mostraram facilmente a todos que o procuraram e também neles José não se encontrou verdadeiramente. Tinha, pela maldição do nome, que continuar trabalhando, mas foi assim procurando um jeito de ficar perto das amadas palavras e pouco a pouco foi trabalhar em editoras e jornais[5] e percebeu que as palavras, assim como as flores mudam, ainda que sejam sempre as mesmas flores, não são sempre as mesmas palavras, que plantadas em prosa soam solenes, em poesia se tornam leves como plumas e no jornal se apresentam duras. Como ele amava as palavras incondicionalmente, as amava como elas eram, leves ou densas, alegres ou cínicas, poéticas, sublimes ou duras, como amava as pessoas que da mesma forma assim se apresentam, como flores e palavras, às vezes meigas, às vezes cruéis, portanto, não poderia amá-las menos pela crueza do dia a dia contando-nos coisas prosaicas e corriqueiras, sobres coisas que marcam tão fortemente um dia, mas que raramente são lembradas na semana, nas cinzas do mês ou no túmulo dos anos. Desta forma, pois a vida encontra formas muito várias para promover encontros, uma flor silvestre sem terra, nascida de escombros, que havia encontrado e amado os livros, que por amar palavras, pessoas e flores se tornou comunista, que por querer ser escritor pariu dois romances nos quais não se viu, que na poesia se procurou sem se achar, encontrou-se com a crônica. Deste encontro foram seus filhos: Deste mundo e do outro (1971), A bagagem do viajante (1973), As opiniões que o DL (Diário de Lisboa) teve (1974), Os apontamentos (1977).

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Carta de Julián Conrado ao presidente Hugo Chávez



Julián Conrado
“Mi fusil es mi guitarra y mis balas son versos de calibre bolivariano, mi táctica es la combinación de las notas musicales con la poesía y mi estrategia un mundo de paz con justicia y amor. Como sé que la paz en mi querida y sufrida Colombia debe pasar por una solución política del conflicto, seguiré dando todo de mi para lograr ese objetivo”.
O ACNUR (Alto Comissário das Nações Unidas para os Refugiados) aceitou
um processo de pedido de asilo para Julián Conrado. As condições em que foi detido são inaceitáveis, o seu destino suscita as mais sérias preocupações. Eis como descreve a situação a Coordenadora “Que no Calle el Cantor”:
“Tal como costumam fazer governos arbitrários que detêm pessoas ilegalmente para fazer a sua entrega ao estilo do Plano Condor, sem salvaguarda dos seus Direitos Fundamentais, “cego” perante a ausência de acusação e de processo legal que seja conhecido, Julián Conrado, preso e incomunicável na Direcção de Inteligência Militar (DIM), foi esta sexta-feira, 5 de Agosto, à 1h 50 m da tarde, retirado de La Carraca, em que esteve detido e incomunicável durante mais de sessenta e sete (67) dias, nos calabouços do DIM Boleíta, em Caracas. Perante este quase inverosímil absurdo, sendo sexta-feira à tarde e com um fim-de-semana pelo meio, a Coordenadora “Que no Calle el Cantor” e a FUNDALATIN exprimem a sua indignação perante uma tal arbitrariedade e dirigem um apelo ao Comandante Hugo Chávez no sentido de que imponha a ordem e a legalidade perante arbitrariedades tão evidentes, apelo que se dirige também à grande humanidade que tem demonstrado ao longo da sua vida”.
“Decidimos publicar a carta particular que Julián Conrado dirigiu ao Comandante Chávez em 9 de Junho, poucos dias após a sua detenção/sequestro”.[…]”É um apelo desesperado que confia ao seu sentido de justiça o compromisso humanitário para com um perseguido político doente, o respeito pelos seus direitos legais, e lhe pede, de bolivariano a bolivariano, refúgio numa zona de paz que impeça a sua entrega à tortura e à morte, seja na Colômbia ou nos EUA”.
Carta de Julián Conrado ao presidente Hugo Chávez
Comandante Presidente Hugo Chávez.
Querido Camarada:
Saúdo-te com um infinito sentimento patriota, e com a verdade pura e limpa com que nos recomenda que falemos o nosso Pai Libertador, passo a contar-te o seguinte:
O meu nome na luta pela paz com justiça e com amor é Julián Conrado (de baptismo Guillermo Torres) e sou, como Ely Primera, um cantor do povo.
Abri os olhos para a luz do mundo em Turbaco, uma povoação pegada com Cartagena, cidade para onde se dirigiu Bolívar quando da sua derrota em Puerto Cabello, e onde encontrou apoio suficiente para recompor as suas forças.
Daí seguiu pelo Rio Magdalena acima e combate após combate alcançou a vitória que foi a nossa independência em relação ao império espanhol.
Se a Bolívar tivesse sucedido que em Cartagena, em vez da mão solidária e amiga que lhe foi estendida, o tivessem prendido e entregado ao império espanhol, IRRA! Que tamanho não teria tido a sua dor?
Eu sou um patriota colombiano que chego à Venezuela depois de uma prolongada luta, velho e doente, procurando alívio para a minha saúde e com a ideia de, mais à frente, arranjar uma pequena quinta de um hectare, com galinhas poedeiras e animais de engorda onde conseguisse o meu sustento. E continuar, com a ajuda de Deus, a compor e a cantar canções para animar a luta dos povos na sua busca da liberdade e da felicidade.
É isso que faço desde criança.
É pura mentira dizer-se que tenho 20 anos de vida guerrilheira, eu sou guerrilheiro há mais de 40 anos; a diferença é que sou, não guerrilheiro militar mas guerrilheiro cantor, como Ely Primera, Victor Jara, Carlos Puebla, Ruben Blades, Sílvio Rodriguez e tantos outros. A minha espingarda é a minha guitarra e as minhas balas são versos de calibre bolivariano, a minha táctica é a combinação da poesia com as notas musicais e a minha estratégia é um mundo de paz com justiça e amor. Como sei que a paz na minha querida e sofredora Colômbia deve passar por uma solução política do conflito, continuarei a fazer tudo o que for capaz para alcançar esse objectivo.
Tanto tu como a Revolução Bolivariana têm estado presentes nas minhas canções, e se as escutares saberás o amor que sinto por ti e pelo povo venezuelano o que, logicamente, faz aumentar contra mim o ódio do Império e das oligarquias; quebra-me agora a alma que se possa truncar o meu novo trabalho, que são canções para a Nicarágua e Daniel, Bolívia e Evo, Uruguai e Pepe, Cuba e Fidel, Honduras, Equador e mais alguma coisa para a Venezuela; a única coisa que falta a esse trabalho é gravá-lo. Oxalá aconteça o milagre de que me deixem cantá-las para que as possas apreciar.
Não queria criar problemas ao teu governo, fiz todos os possíveis para o evitar, bati a algumas portas e não me abriram, apenas Lina Ron prometeu ajudar-me e um dia antes do encontro morreu a camarada.
Agora estou privado de liberdade e segundo o Santo vou ser extraditado, mas enfim, já o disse antes o Mestre Simón Rodriguez: inventamos ou erramos. Eu sei que tu podes, com o imenso poder da autoridade moral que possuis, inventar que o impossível se torne possível; para além do mais, existem acordos e leis internacionais que não autorizam a minha extradição.
“não permitas que pensem: era assim que o queríamos vê-lo. Não permitas que digam: havemos de o comer vivo” (Salmo 35).
Da minha esposa (que te ama, além do mais por ser “llanera” e para completar descendente de Maisanta) nada sei desde o dia da minha captura; ela ficou (se é que ainda está viva) apenas com a roupa com que dormia, sem dinheiro, doente e com problemas causados pela menopausa; o que estará a sofrer é indizível.
Por aqui os guardas, a partir do momento em que descobriram que eu não era o terrorista que lhes tinha sido pintado, têm-me tratado melhor. JÁ NÃO ESTOU ALGEMADO E COM OS OLHOS VENDADOS, COMO ESTIVE MAIS DE UMA SEMANA. Dizem-me que é possível conseguir uma guitarra para cantar; oxalá, porque se se cala o cantor cala-se a vida.
Despeço-me com um abraço “elyprimerano”.
Amando venceremos!
Julián Conrado

terça-feira, 9 de agosto de 2011

SER PAI


Ser pai:
É amar com o coração,
É perdoar quando contrariado.
É buscar diálogo nos momentos difíceis,
É manter o equilíbrio.
É ser sensato e sensível,
É participar, não apenas marcar presença!
É saber ouvir, aconselhar e ser exemplo,
É saber que errou e buscar acertar.
É ser humilde, porém agir quando necessário,
É ser enérgico e agir com a razão.
É se emocionar quando o filho se emociona,
É chorar quando o filho chora.
É ser solícito e também solicitar,
É ser responsável e pontual.
Pai: amigo, irmão, companheiro...


Antônio Francisco Cândido
candidok1917@gmail.com

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

A Mãe - Gorki

“Nós, gente do povo, sentimos tudo, mas não sabemos nos exprimir; temos vergonha, porque compreendemos, mas não sabemos dizer o que compreendemos. E muitas vezes, por causa desse embaraço, revoltamo-nos contra os nossos pensamentos. A vida bate-nos, tortura-nos de todas as maneiras e feitios, queremos descansar, mas os pensamentos não nos largam.”

Uma obra literária contextualizada na Rússia do início do século XX, inspirada em manifestações reais do primeiro de maio de 1902 e no julgamento dos seus participantes. A revolução de um povo no seio de uma família, transformando a todos com a consciente participação na luta pelos ideais.
A vida da fábrica, o ar pesado de fumaça, a vida cinza... O homem é o retrato da violência do meio. Trabalha, contrai matrimônio, tem filhos, enterra muitos, bebe, é espancado, espanca e morre. Quando o serralheiro Mikhail Vlassov falece, restam a mãe viúva e o filho. Uma relação quase desconhecida: falavam pouco e quase não se viam.
Um dia após o jantar, a mãe pergunta o que o filho lê e surge o primeiro vínculo entre os dois no segredo compartilhado: “Leio livros proibidos. Os livros são proibidos porque dizem a verdade sobre a nossa vida de operários... São impressos às escondidas e, se os encontram aqui, metem-me na prisão, porque eu quero saber a verdade.”
Próximos, recomeçam a vida familiar em silêncio. A mãe declara seu medo quando o filho começa a receber visitas e a discutir as leituras e as formas de inserir o conhecimento no meio operário. A mãe permanece à margem, analisa as visitas e o que dizem, afeiçoa-se ao grupo... Mas ainda está muito presa aos preconceitos e às verdades religiosas alicerçados em sua existência.
Os panfletos circulam, exortando os operários a se unirem e lutarem por seus direitos. Existem os novos que se entusiasmam; os que ganham bons salários e levam para a administração as folhas, e a maior parte, alquebrada pelo trabalho e pela indiferença, respondem preguiçosamente: “Nada vai mudar, é mesmo impossível.”
Iniciam as buscas em casa, os boatos, as esperas... O filho sabe que o futuro é a prisão. A mãe ironiza a si própria: “Tive medo... até antes de ter medo.”
O filho é preso com a suspeita de que liderava a circulação dos panfletos subversivos. A mãe, amadurecida e transformada com as leituras às escondidas, engaja-se na luta, trabalhando como vendedora de marmitas na fábrica, e continua a distribuição dos panfletos sob o disfarce. A mulher velha se transforma, passa a ocupar um espaço de funções e percepções no grupo. Não é mais apenas a mãe.
O filho é solto e logo inicia os preparativos para o 1º de maio. A manifestação reúne uma multidão compacta e os líderes estimulam os trabalhadores a aderirem ao levante. “Levanta-te, povo trabalhador! A pé, gente com fome e dor!”
A multidão se dispersa diante da “onda cinzenta de soldados”. Muita violência e a prisão dos líderes, entre eles o filho Pavel, encerram a manifestação.
Com a nova prisão de Pavel e a certeza da condenação, a mãe se muda para a casa de um amigo do filho na cidade, um professor primário, e continua o trabalho de distribuição dos panfletos nas zonas rurais. A realidade dos camponeses e dos operários é demonstrada na alienação e no medo. A mãe já não é a esposa violentada pela vida e a senhora com medo do conhecimento do filho, é uma mulher consciente que já tem argumentos próprios.
“A mãe ouvia-o como um sonho; a sua memória desfilava diante dela a longa série de acontecimentos dos últimos anos e, ao recordá-los, via-se a si própria. Outrora a vida havia-lhe parecido externa, longínqua, feita não se sabe por quem, nem por quê; e eis que agora muita coisa nasce perante os seus olhos com a sua contribuição.”
O julgamento do filho é apenas um jogo de cena. As penas já foram estabelecidas nos gabinetes. A deportação – trabalhos forçados. A mãe leva o discurso proferido pelo filho no julgamento para ser impresso e divulgado na tipografia clandestina. Quando ela, incumbida da distribuição, tenta embarcar com a mala cheia de panfletos, percebe que foi apanhada. Sente dúvidas se deve abandonar a mala, mas logo vem a certeza de que seria abandonar as palavras do filho.
É pega, humilhada e espancada. “Não afogarão a verdade num mar de sangue...”
Muitos são os trechos instigantes do romance:
A elaboração da morte de um camarada: “Que quer isso dizer: ele morreu? A minha estima por Iegor, a minha afeição por ele, pelo camarada, a recordação da obra dos seus pensamentos, essa própria obra? Extinguiram-se os sentimentos que ele fez nascer em mim, apagou-se a imagem que me fez dele, de um homem corajoso, honesto? Será que tudo isto morreu? Para mim, isto não morrerá nunca, sei-o bem. Parece-me que nos apressamos demasiado em dizer de um homem: morreu. ‘Estão mortos os lábios dele, mas as suas palavras vivem e viverão eternamente no coração dos vivos!’”
O relato do homem à beira da morte que afirma que sua vida foi mutilada pelo árduo trabalho na fábrica para o patrão comprar um penico de ouro para uma cantora: “Nesse ouro está a minha força, a minha vida. Foi assim que a perdi, um homem matou-me de trabalho para agradar à amante... Comprou-lhe um penico de ouro com meu sangue.”
A perspectiva do perdão: “Como perdoar a quem se atira contra ti como um animal selvagem, quem não reconhece em ti uma alma viva e esmurra o teu rosto? Impossível perdoar. Não por mim, pois suportaria todos os ultrajes se fosse só eu, mas não quero ceder o mínimo aos que empregam a força, não quero que eles aprendam nas minhas costas a espancar os outros.”
Ou a percepção de que apenas a verdade não basta, é necessário tocar a emoção do trabalhador: “Falas bem, sim, mas não tocas o coração, aí está. É no mais fundo do coração que é preciso acender a centelha. Não cativarás as pessoas pela razão. Este sapato é demasiado fino, demasiado pequeno para o pé delas.”
“A Mãe” foi um romance extremamente importante para a consciência da revolução soviética. Lenine, ao ler a obra de Gorki, comentou: “É um livro necessário. Muitos operários participaram no movimento revolucionário de um modo não consciente, espontâneo, e ler A Mãe ser-lhes-á de grande proveito. É um livro muito oportuno.”
Máximo Gorki (1868 a 1936) participou em lugar destacado da revolução de 1905 e, após o malogro desta, escreveu o romance “A mãe” em 1907. Sua atividade literária sempre foi acompanhada de intensa atuação no campo político. Marxista, filiado ao Partido Social Democracia, criou a revista Znanie (O Conhecimento), destinada a estimular vocações jovens.
A vida do grande escritor russo foi marcada pela miséria e pela violência que traçam seus personagens. Órfão de pai aos seis anos, foi morar com o avô que o forçou a “cair no meio do povo para ganhar a vida”. Autodidata, apaixonou-se pelos livros quando trabalhou como copeiro num barco, aos 12 anos, e o cozinheiro transmitiu seu prazer pela leitura e emprestou os livros de sua pequena biblioteca.
Sua vida abrangeu o fim do czarismo e a consolidação do regime soviético. Assumiu cargos importantes no Governo e teve uma morte misteriosa: faleceu inesperadamente quando estava recolhido no hospital para tratamento médico de rotina. Foi sepultado na Praça Vermelha junto aos líderes da Revolução e consagrado como o patrono das letras soviéticas.
O pseudônimo do escritor – Gorki - foi adotado em recordação aos anos de penúria de sua infância mutilada. Gorki em russo significa “amargo”.

O título e a atuação da protagonista no romance ensejam uma crônica especial sobre o papel das mães na construção da história. As mães da Praça de Maio, as mães dos soldados mortos em combate, as mães dos grandes líderes, as mães dos grandes mártires...


Helena Sut
http://www.recantodasletras.com.br/resenhas/2368

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Reflexões de um cidadão muito controlado

Eu consigo controlar minha raiva!
Eu consigo controlar minha dor!
Eu consigo controlar minha vontade de mudar as coisas ao meu redor
Eu consigo controlar meu prazer, meu desejo, minha angustia
Eu consigo controlar até meus impulsos e minhas revoltas... 

Caramba...
como sou controlável.

Heitor Cesar Oliveira

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

" A MAIS VALIA VAI ACABAR,SEU EDGAR” - VIANINHA

" A MAIS VALIA VAI ACABAR,SEU EDGAR”

ATORES SE DIRIGEM AO PÚBLICO:
      Atenção vai começar a função!
      Não será o melhor espetáculo da terra,
      Mas:
      não faremos chorar por que o croquete sobrou,
      rir não faremos porque o croquete faltou.
      queremos cantar o que sabemos,
      apesar de pouco sabemos
      queremos fazer vocês rirem
      da graça que ninguém tem.
      titio e titia não brigarão,
      nenhuma dona maria vai chorar,
      titio, titia
      dona maria
      estão cansados de brigar,
      desistiram de chorar.
      estão todos na rua pensando como chegamos até aqui com sono, língua de fora,
      camisa poída e a vontade deitando
      só nos velhos palcos se choram, se brigam
      os deslembrados que a vida é gastada na rua
      com jornal, promissória, remédio, trator,
      porta-avião, saudade, gravata, salsicha, canhão.
      procuramos outro caminho
      mesmo enterrado, em graça, raivudo
      para deixar de chorar porque o pinico furou,
      pneu estourou
      caneta tem rabo
      vovó não gosta de nabo.
      somos poucos,
      eu, eu, abreu, Romeu, tadeu, dirceu, zé bedeu
      edivirges, seixas, rosário.
      jose não veio com dor na espinha,
      andré faltou por que deflorou a vizinha.
      então é fazer papéis à mão cheia:
      Mudo de roupa sou bom, sou mau, sou gago
      Sou quatro, mocinho, fico na fila
      Atenção!
      Vai começar a função!
      Não será o melhor espetáculo da terra!
      Mas será do melhor de todos nós.

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Quadrilha ou Elegia à durabilidade Condensada & Quadrilha ou Elegia à durabilidade Estendida

Quadrilha ou Elegia à durabilidade Condensada

Fulano que enfia Sicrano que enfia em Beltrana. Fulano ganhou cargo, Sicrano gratificação e Beltrana só gozou... um João-concursado que entrou de gaiato na história.


Quadrilha ou Elegia à durabilidade Estendida

Fulano elogia Sicrano que elogia Beltrano que não se aguenta mais.
Fulano ganhou cargo, Sicrano foi promovido e Beltrano foi a Fundão se contar.
Mudou-se o comando, o concílio acabou, mas a mesa ficou, prometendo mais festa.

A cada era, um mesmo estribilho.

Fulano emprega a prima de Sicrano que se torna nora de Beltrano que não se resiste.
Fulano permaneceu no cargo, Sicrano apostilou e Beltrano foi a Recife, congresso de biblioteconomia, para se bronzear.
Mudou-se o comando, o veranico acabou, e a mesa mudou: prometendo mais festa.

E neste verão o mesmo estribilho.

GUSTAVO TANUS