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segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Paranóia

Eu sei
eles sabem de min
sabem o que penso
querem-me assim

pronto pra saber
pronto pra querer
aceitar-me assim

sempre assim
sem gesto
que contrarie
sem gosto
que contrarie
seus ouvidos

querem-me todo ouvidos
pra continuar assim


Hallisson Nunes Gomes

domingo, 27 de fevereiro de 2011

Lamentos

Ao Observar o mar
naquela manhã de sábado
após aquelas infinitas horas
que não cumpriram sua tarefa de ser noite
senti algo diferente
era como se suas águas
suplicassem aos meus pés, implorando
e implorando
contando em lamentos
os horrores por ele, o mar, testemunhado
em todo o mundo, e vinha repetindo
Implorando e implorando
suas aguas já não mais lambiam minhas pernas, mas me batiam
não mais lamentavam, mas urravam
rios de arbitrariedade e opressão,
Intolerância, guerras, preconceitos desaguando
em suas águas
e o clamor em lamentos, em tristes lamentos do mar
já se tornava agressivo, me batia e tornava a bater
a cada nova onda
uma nova dor em um mar de agonias e angustias
e diante de tal
como se tornaram pequenas minhas lágrimas de amor




Heitor Cesar
Rio de Janeiro/Brasil

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Sexta-feira

Hoje meu espírito
É como uma floresta de eucalipto,
Não pousa ninguém.

Hoje minha alma
É uma sacola no arbusto indiano,
Seca de calor.

Hoje meu sorriso
É uma mansão em chamas na Califórnia,
Cínico e amarelo.


Daniel Oliveira

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Amarga

Eu tenho o poder de retumbar, com os meus passos, o chão seco e vermelho do sertão;
tenho a força de galopar uma égua campolina
domar besta desgarrada na unha e no grito.
Por isso exijo respeito e sua devoção é para mim, obrigação.


A força é bruta,
e de tão bruta se lasca
é choro.
Se estou completa, por quê o choro?


A mulher acrobata tem a ousadia de bailar na fita e não despencar,
Ela está de picardia
vai se jogar ou não?
Sedução e ira
E ainda me provoca com a força dos seus movimentos na fita.
Das alturas ela não desce para me encontrar.


Eu estou sendo feita de brihantes
Micro pontos de brilhantes
Eu sou
Não há átomos, nem células.
Brilhantes e espaços vazios.
Etéreo e branco
O que faço? Danço.

Nana Krishna Andrade

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

A política cultural do PCB dos anos 30 aos 60


O PCB passa a disponibilizar em sua página (na Seção de Cultura) o link ao arquivo do site marxists.org, que abriga várias edições da Revista Problemas, publicadas pelo nosso Partido entre os anos de 1947 e 1956, no auge da Guerra Fria, período marcado pela perseguição implacável aos comunistas em todo o mundo. A existência da Revista Problemas no período comprova que, apesar da repressão, o PCB continuou cultivando uma prática nascida com sua fundação e que cresceu, evidentemente, após a queda do Estado Novo: a difusão das suas ideias e resoluções por intermédio de um razoável aparato político-cultural e de uma imprensa partidária sempre atuante, mesmo que, em diversos momentos, clandestina. Para conhecermos um pouco mais da produção político-cultural dos comunistas brasileiros em grande parte do século passado, segue o texto abaixo:

A política cultural do PCB dos anos 30 aos 60

Ricardo Costa – Secretário Nacional de Formação Política

O aparato político-cultural do PCB funcionou, ao longo de sua história, como importante polo gravitacional do mundo da cultura, com um grau de adesão mais ou menos permanente, a depender sempre das circunstâncias políticas e dos debates internos. Para um partido que viveu a maior parte de sua história na clandestinidade, o fato de o seu aparato político-cultural ter se constituído de maneira expressiva de tempos em tempos, como em 1935, nos anos 1945/47, 1948/52 e 1963/64, comprova o peso da sua inserção no campo cultural e a capacidade de fazer circular na sociedade os bens simbólicos produzidos internamente, os quais eram difundidos, principalmente, pela imprensa partidária.

Nos primeiros anos de sua existência, o Partido Comunista teve como seus principais dirigentes os intelectuais Astrojildo Pereira e Octávio Brandão, autores de obras difusoras do pensamento marxista e das opiniões dos comunistas acerca da conjuntura nacional e internacional, além de inúmeros artigos publicados nas revistas e jornais mantidos pelo partido ou abertos à colaboração de seus militantes. A linha adotada pelo III Congresso, em favor da proletarização do partido, com a estrita subordinação às diretrizes da Internacional Comunista, promoveu a exclusão dos intelectuais da direção e sua marginalização da vida partidária. O período posterior à “Revolução de 1930” foi também acompanhado por uma forte onda repressiva do Estado contra os movimentos organizados dos trabalhadores, seguissem eles a orientação anarco-sindicalista ou a comunista. Paradoxalmente, o PCB conseguiu republicar o jornal A Classe Operária, ao mesmo tempo em que estendia sua influência a parcelas significativas das camadas médias, como estudantes, militares e intelectuais.

Os modernistas Oswald de Andrade e Patrícia Galvão (Pagu) entraram para o partido, e publicações editadas entre 1931 e 1934, tais como a revista mensal Boletim de Ariel (destinada à divulgação e discussão de livros, na qual se travaram debates sobre o socialismo soviético e a literatura proletária) e a revista de literatura, arte, economia e ciência Espírito Novo contavam com a colaboração de nomes vinculados ou próximos ao partido, como Jorge Amado, Alberto Passos Guimarães, Aderbal Jurema, Cândido Portinari, Aníbal Machado, Raquel de Queiroz, Caio Prado Júnior, Carlos Lacerda, Di Cavalcanti, Tarsila do Amaral e o já citado Oswald de Andrade, dentre outros.

O auge da influência do PCB na década em questão se deu em 1935, com a expansão das ações dos comunistas na sociedade, graças, centralmente, à sua atuação no interior da Aliança Nacional Libertadora. O partido conseguia acesso a publicações para militares, inúmeros jornais e boletins sindicais e estudantis, além de ter participação em várias revistas culturais e de manter três jornais diários (A Manhã, no Rio; A Plateia, em São Paulo e Folha do Povo, em Recife), nos quais colaboravam o humorista Aparício Torelli (o Barão de Itararé), o pedagogo Anísio Teixeira, o professor Hermes Lima, o sociólogo Arthur Ramos, o poeta Jorge de Lima, Rubem Braga, Raquel de Queiroz, José Lins do Rêgo, Oswald de Andrade, Paulo Werneck e Portinari, entre muitos outros.

A repressão desencadeada sobre o movimento de 1935 desbaratou a imprensa identificada com os comunistas, mas, em 1937, mesmo sob a ditadura do Estado Novo, era editada a revista Problemas, de orientação nacionalista e antifascista, tratando de temas relativos a economia, política, literatura, história e reunindo diversos intelectuais de esquerda, comunistas ou não: Moacir Werneck de Castro, Flávio de Carvalho, Edison Carneiro, João Mangabeira, Procópio Ferreira, Arruda Câmara, Joel Silveira, Rubem Braga, Oswald de Andrade, etc. Outras publicações estiveram subordinadas à orientação do PCB, ainda durante o Estado Novo: a revista Cultura, contando com a presença de Sérgio Milliet, Graciliano Ramos, Monteiro Lobato, além dos nomes já elencados acima; a Revista Proletária, órgão teórico de orientação marxista-leninista e de combate ideológico ao trotskismo e ao fascismo; Diretrizes; Dom Casmurro e a baiana Seiva. No plano mais cultural, destacavam-se as revistas Leitura, Esfera (com a participação de Dias da Costa, Jorge Amado, Graciliano e outros) e Continental, de caráter informativo e voltada a analisar o contexto internacional, além de pregar a linha partidária de defesa da união nacional. Era comandada pelo dirigente Armênio Guedes e tinha, como colaboradores, os também comunistas Mário Alves, Maurício Grabois, Rui Facó, Álvaro Moreyra, dentre outros.

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

ANGYE GAONA - BARCA VIVA

Solta as amarras, alma mnha
leva as velas que é difícil partir.

Não subiremos carga alguma.
Só o nome e não deve pesar.

Não repares no que fica,
será só estrago na corrente.

Zarparemos agora
pois, se não é assim, então quando?
Esta é a aurora única.

E, se o céu quiser,
que o vento nos seja esquivo.

Será somente, então,
o sopro do coração
para alcançar a ferida a traspassar,
a que fagulha adiante.

Não temas,
não queima.

Somos uma barca viva
que nasce da própria propulsão
como as águas.

Tradução Daniel Oliveira

***

Angye Gaona. Bucaramanga, Colômbia, 1980. Pertenceu ao comitê organizador do Festival Internacional de Poesia de Medellín. No ano de 2001, coordenou a Exposição Internacional de Poesia Experimental, realizada no marco do XI Festival Internacional de Poesia de Medellín. Os poemas aqui apresentados pertencem ao livro NACIMIENTO VOLÁTIL (Nascimento Volátil), recentemente publicado.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

RUBÉN DARÍO - MARGARIDA

Lembras-te que querias ser uma Margarida
Gautier? Fixo em minha alma teu raro rosto está,
de quando ceamos juntos, na primeira surtida,
em uma noite alegre que nunca voltará!

Teus lábios escarlates de púrpura maldita
sorviam o champanha do fino baccarat;
teus dedos desfolhavam a branca margarida:
“Sim... não... sim... não...” – sabias que te adorava já!

Depois, flor de Histeria! tu choravas e rias;
teus beijos, tuas lágrimas minha boca provou;
tuas risadas, queixas, fragrâncias, possuí-as.

E numa tarde triste dos mais ditosos dias
a Morte, a ciumenta, por ver se me querias,
como a uma margarida de amor te desfolhou!

Traduzidos por Anderson Braga Horta

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

O Papiro Leiden 344 _ Ao Povo Egípcio

Em verdade,
Os nobres estão angustiados,
Enquanto o homen pobre
Está cheio de alegria.
Cada cidade diz:
Acabemos com os poderosos
Entre nós!

Em verdade,
As leis do tribunal
São jogadas fora.
Em verdade,
Homens as pisoteiam
Nos lugares públicos,
E homens pobres
As destroem nas ruas.

Vede,
Coisas foram feitas
Que há muito não aconteciam:
O rei foi deposto pela turba.

Vede,
Os segredos das terras
Cujos limites eram desconhecidos
É divulgado,
E o Palácio real
É derrubado num momento!

Hallisson Nunes Gomes

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Por Todas as Partes

Por todas as noites,
A cada Esquina da cidade
Coisas acontecem
Muito mais que sombras ou contornos no escuro
Muito mais que balbuciados no silêncio
Repetindo a cada dia
Sinfonias mais que urbanas
Sobrias ou insanas
Quem se importa?
Como poesias pichadas em muros da fabricas
agora com o carimbo "Censuradas"
ou como rosas diante do caos reacionário
babando odio noticiados nos intervalos das novelas de TV
Quem se importa?

E a noite continua
Todas em uma, a mesma em todas
Porém uma centelha brilha
por que atéas noites também caem,
Como os desertos corações
Dos tantos que choram por paixões
Sim, alguém se importa.

Heitor César Oliveira, de algum lugar do Rio de Janeiro

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Na praia

As crianças brincam na restinga.
Enquanto a onda castiga
A velha carcaça carcomida.

Na linha da vista, uma garça
Confunde-se com a crista
Alva da enigmática vaga.

Adiante, a incógnita salina
Cava uma nova cacimba
Onde a palmeira germina.

E o vento sopra a duna
E funda crianças no horizonte.

ROBSON CERON

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Palavra

Palavra que liberta
É palavra vomitada.

Grito exaurido
É palavra sufocada,

É água de enxurrada
É visão distorcida
É massa adormecida
É névoa amanhecida
É goela ensandecida

É o fim.


Daniel Oliveira

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Dia desempregado


Ele acordou como um dia

Dia a dia
De noite
Dia a dia
Dilema

Vestiu-se com papel
Olhou o outro dia
Seu sapato de plástico

Lavou a cara com a cara
Comeu esperança e extinto
Arrotou cansaço e rotina

Abriu a porta da rua
Riu pra vizinha da esquina
Foi-se sem rumo.

Hallisson Nunes Gomes